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Opinião: Mudanças climáticas, inflação e pobreza no Brasil

17/01/25
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Foto: Kampus Production/Pexels

_Paulo Barreto* e Fernanda da Costa**

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As mudanças climáticas têm se tornado uma realidade desafiadora, com impactos socioeconômicos e ambientais profundos no Brasil. Entre os efeitos mais visíveis estão secas severas e enchentes, que não só devastam comunidades e ecossistemas, mas também têm consequências econômicas significativas, como a alta da inflação. E se o país quiser mantê-la dentro da meta, precisa assumir que esse desafio exigirá muito mais do que políticas fiscais, como o controle de gastos públicos. Precisamos de mudanças nas atividades econômicas que mais contribuem para as emissões de poluentes que causam os extremos climáticos e seus desdobramentos inflacionários.

Por ser formado pelo aumento no custo de produtos e serviços, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a “inflação oficial” do Brasil, é altamente dependente do clima. Quando secas, enchentes ou geadas estragam lavouras, o valor dos alimentos sobe, aumentando a inflação. E com menos chuvas para os reservatórios das hidrelétricas, o custo da energia cresce. O que impacta não apenas a nossa conta de luz, mas também a de todas as indústrias e estabelecimentos comerciais. E com a energia mais cara, essas empresas aumentam o valor de seus produtos e serviços, sendo outra contribuição climática para a inflação elevada.

Foto: James Frid/Pexels

O próprio

Foto: Helena Lopes/Pexels

Neste mês, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou que 2024 foi o ano mais quente já registrado. E o Brasil está em quinto lugar entre os países que mais emitem gases de efeito estufa no mundo, conforme a plataforma Climate Watch. Portanto, para controlar a inflação, entre outras ações, é essencial adotar medidas que reduzam as emissões (mitigação) e adaptem o país às mudanças climáticas.

A mitigação envolve a redução das emissões de gases de efeito estufa, que no Brasil são causadas principalmente pelo desmatamento. Ou seja: zerar a derrubada das florestas pode contribuir para controlar a inflação. Além disso, são medidas de mitigação importantes realizar a transição energética para acabar com os combustíveis fósseis, restaurar florestas e adotar práticas agrícolas e de gestão de resíduos sólidos sustentáveis.

Já a adaptação significa a preparação das comunidades e das infraestruturas para lidar com os impactos inevitáveis da mudança do clima. Isso inclui, por exemplo, a realocação de famílias que residem em áreas de risco, a melhoria dos sistemas de saneamento, drenagem e transporte, e os investimentos em segurança hídrica e alimentar.

Ações que precisam ser urgentes não apenas para combatermos a emergência climática e a alta da inflação, mas também para impedir uma consequência cruel de ambas: o aumento da pobreza.

*Pesquisador sênior e cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), é engenheiro florestal e mestre em Ciências Florestais. **Coordenadora de comunicação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), é jornalista e especialista em Direitos Humanos.

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