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Apenas 3 supermercados e 12 frigoríficos alcançam nível alto de controle das fazendas de engorda contra o desmatamento, aponta Radar Verde

22/10/25
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Nenhuma das 151 empresas frigoríficas e 100 maiores redes varejistas demonstrou controle  das fazendas de cria e recria, elo da produção mais vulnerável à entrada de gado de áreas desmatadas. 

Fonte: Bruno Kelly/ Greenpeace

O Radar Verde, em sua edição 2025, divulga nesta quarta-feira (22/10) dados inéditos que revelam que apenas 12 frigoríficos e 3 redes de supermercados conseguem comprovar alto controle apenas das fazendas fornecedoras diretas de gado em sua cadeia de carne bovina. Nenhuma empresa, no entanto, demonstrou controle efetivo das fazendas fornecedoras indiretas, elo da produção mais vulnerável à entrada de gado de áreas desmatadas. A avaliação analisou 151 grupos frigoríficos e as 100 maiores redes varejistas do Brasil, considerando tanto as políticas declaradas contra o desmatamento quanto a implementação prática, medida por auditorias independentes e dados públicos.

A lacuna central está no controle das fazendas fornecedoras diretas e, sobretudo, das fazendas fornecedoras indiretas. As fazendas fornecedoras diretas são aquelas que realizam a última engorda antes do abate e vendem os animais diretamente para os frigoríficos. Já as fazendas fornecedoras indiretas, onde os animais nascem e crescem antes da fase de engorda, permanecem invisíveis para as empresas. 
Nenhum frigorífico ou supermercado comprovou ter controle sobre as fazendas fornecedoras indiretas.

Sinais de avanço

Embora o controle siga muito baixo, houve avanços em relação à transparência das informações. O número de frigoríficos com resultados de auditorias independentes tornados públicos triplicou, passando de 13 em 2024 para 41 em 2025, cobrindo 57% da capacidade de abate da Amazônia Legal, ante 37% no ano anterior. Além disso, empresas como Plena Alimentos, Frigobom, Naturafrig e Frialto começaram a publicar critérios socioambientais mais detalhados em seus sites oficiais.

A Plena Alimentos também respondeu voluntariamente ao questionário do Radar Verde pelo segundo ano consecutivo, fornecendo informações adicionais além daquelas disponíveis em fontes públicas. Esse tipo de participação contribui para a base de dados da pesquisa e indica maior transparência por parte do grupo frigorífico, ainda que não represente comprovação de políticas mais eficazes.

Alguns frigoríficos e varejistas também implementaram iniciativas de boas práticas, como programas de rastreabilidade voluntária, apoio técnico a pecuaristas e maior detalhamento de critérios de compra. Ainda assim, essas ações permanecem restritas a poucos grupos e não alteram o cenário geral de fragilidade na cadeia da carne.

Esse aumento na transparência está relacionado, em parte, à ampliação das auditorias vinculadas ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne e à autorregulação SARB 026/2023 da Febraban, que passaram a exigir mais divulgação de indicadores e resultados socioambientais das empresas.

Segundo Paulo Barreto, pesquisador do Imazon, “nenhum frigorífico comprovou controle sobre as fazendas fornecedoras indiretas. Esse é o gargalo que mantém a pecuária brasileira exposta ao desmatamento ilegal e à pressão internacional.”

Para Alexandre Mansur, diretor do Radar Verde pelo Instituto O Mundo Que Queremos, “as empresas já entendem a importância da transparência, mas ainda precisam transformar compromissos em prática para reduzir o risco ambiental e comercial de suas cadeias.”

Como o Radar Verde avalia

A metodologia do Radar Verde combina análise documental e evidências públicas para medir o nível de compromisso e de implementação das políticas contra o desmatamento. Cada empresa é avaliada a partir do que declara fazer (por meio de políticas, compromissos e metas divulgadas) e do que comprova na prática, com base em auditorias independentes, relatórios técnicos e dados de órgãos públicos.

Entre os critérios observados estão o controle de Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades fornecedoras, a regularidade fundiária das fazendas, o uso de listas de exclusão e inclusão de fornecedores, a data limite de desmatamento considerada (legal ou ilegal) e a transparência dos resultados. Essa combinação permite identificar tanto o grau de ambição das políticas quanto sua efetividade no território.

Para que serve o Radar Verde

Os dados do Radar Verde podem ser utilizados por empresas, investidores e formuladores de políticas para orientar decisões de compra, crédito e investimento mais responsáveis. O índice ajuda a identificar quais companhias possuem maior controle sobre suas cadeias e quais ainda apresentam riscos significativos de associação com desmatamento.

O setor financeiro também pode se beneficiar das informações geradas. Instituições de crédito e investimento podem utilizar os dados do Radar Verde para aprimorar políticas socioambientais e mitigar riscos nas decisões de crédito e investimento.

Sobre o Radar Verde

O Radar Verde é um índice independente que monitora a transparência e o compromisso de frigoríficos e varejistas com cadeias livres de desmatamento. A avaliação considera a ambição dos compromissos declarados, a implementação por meio de auditorias independentes e a qualidade das informações públicas disponibilizadas. Ao tornar esses dados acessíveis, o Radar Verde fortalece a capacidade de consumidores, investidores e formuladores de políticas de exigir mudanças concretas no setor.

O relatório completo, com ranking e resultados detalhados por empresa, está disponível aqui

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