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Reserva Chico Mendes é a área protegida mais ameaçada e pressionada pelo desmatamento na Amazônia

04/11/25
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Unidade de Conservação no Acre lidera ambos os rankings do novo relatório Ameaça e Pressão do Imazon, que monitora trimestralmente o avanço do desmatamento em áreas protegidas da Amazônia Legal

A Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, localizada no Acre, foi a área protegida mais ameaçada e pressionada pelo desmatamento na Amazônia entre julho e setembro de 2025. Os dados são do relatório de Ameaça e Pressão em Áreas Protegidas, publicado trimestralmente pelo instituto de pesquisa Imazon.

Diferentemente do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), no qual os pesquisadores somam a área total desmatada  nos territórios amazônicos, o relatório de ameaça e pressão adota uma metodologia que divide a Amazônia Legal em quadrados de 10 por 10 km, chamados de células, e identifica quantas delas registraram ocorrências de desmatamento. Isso permite identificar as áreas protegidas mais pressionadas, que tiveram maior número de células com derrubada da floresta dentro de seus limites, e as mais ameaçadas, aquelas com mais células com desmatamento ao redor delas, em um raio de até 10 km. E, com isso, antecipar o problema: ou seja, evitar que essas áreas passem a ter as maiores áreas desmatadas.

Por meio dessa metodologia, no terceiro trimestre deste ano, a Resex Chico Mendes ocupou o topo tanto do ranking das áreas protegidas mais pressionadas na Amazônia, ou seja, com mais desmatamento dentro, quanto do ranking das mais ameaçadas, com maior derrubada ao redor. O território acreano tem histórico de ocupação irregular e de extração ilegal de recursos naturais, o que coloca em risco a fauna local e as comunidades tradicionais que dependem da floresta para sobreviver.

Desde o início de 2025, a Resex, que é uma unidade de conservação federal, ocupou posições de destaque nos levantamentos do Imazon. No primeiro trimestre, ficou em sétimo lugar entre as mais ameaçadas. No segundo, subiu para a segunda posição e passou a figurar entre as mais pressionadas. Já neste último relatório, atingiu o primeiro lugar em ambas as classificações, demonstrando o avanço das invasões ao longo do ano neste território.

“Quando uma área protegida começa a aparecer com frequência nesses rankings, é um sinal claro de que o poder público precisa agir com urgência. Medidas rápidas de fiscalização e controle podem evitar que o desmatamento avance e impeça que essa área volte a encerrar o ano entre as mais impactadas”, afirma o pesquisador do Imazon Carlos Sousa Jr.

Outro território que tem aparecido com frequência nos levantamentos trimestrais é a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, no Pará. Entre julho e setembro deste ano, a unidade de conservação estadual ocupou o sexto lugar entre as 10 áreas protegidas mais pressionadas da Amazônia, que apresentam desmatamento dentro de seus limites.

Áreas Protegidas com mais pressão (ocorrências de desmatamento dentro do território)

RankingNomeEstado
1RESEX Chico MendesAC
2TI Andirá-MarauAM/PA
3RESEX Alto JuruáAC
4TI Cachoeira Seca do IririPA
5TI Vale do JavariAM
6APA Triunfo do XinguPA
7PARNA da Serra do DivisorAC
8APA do Lago de TucuruíPA
9FES do Rio GregórioAC
10RESEX Verde para SemprePA

Áreas Protegidas com mais Ameaça (ocorrências de desmatamento ao redor do território)

RankingNomeEstado
1RESEX Chico MendesAC
2PARNA MapinguariAM/RO
3PARNA da Serra do DivisorAC
4TI Kulina do Médio JuruáAM/AC
5TI AraraPA
6TI Trincheira/BacajáPA
7RESEX do Cazumbá-IracemaAC
8FLONA de Saracá-TaqueraPA
9PARNA da AmazôniaAM/PA
10APA do TapajósPA

Já em relação aos estados, o Pará e o Acre concentraram o maior número de APs sob risco ou já impactadas no trimestre. O Pará teve cinco áreas entre as dez mais ameaçadas e cinco entre as dez mais pressionadas, já o Acre registrou quatro em cada uma.

“Esses territórios desempenham um papel essencial na manutenção da biodiversidade e na proteção das populações tradicionais, mas vêm sendo alvo constante do avanço do desmatamento, o que compromete sua integridade e a efetividade das políticas de conservação”, afirma Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Além disso, a especialista alerta que esses resultados reforçam a necessidade de ações integradas entre os governos estaduais e o federal para conter a perda de floresta em regiões críticas da Amazônia. “É essencial que as políticas públicas fortaleçam sua gestão e apoiem quem vive nesses lugares. Somente com investimento em monitoramento, regularização fundiária e alternativas econômicas sustentáveis, esses territórios protegidos vão passar a ser reconhecidos pelo valor que têm em manter a floresta em pé”, completa. 

Pará e Amazonas concentram as terras indígenas mais pressionadas e ameaçadas
Das 10 áreas protegidas mais pressionadas (com desmatamento dentro) da Amazônia no último trimestre, três são terras indígenas: TI Andirá-Marau (AM/PA), TI Cachoeira Seca do Iriri (PA) e TI Vale do Javari (AM). Já das 10 áreas protegidas mais ameaçadas (com desmatamento ao redor), três também são terras indígenas: TI Kulina do Médio Juruá (AM/AC), TI Arara (PA) e TI Trincheira/Bacajá (PA). Rankings que colocam o Pará e o Amazonas como os estados com maior urgência em defender seus territórios indígenas do avanço da derrubada florestal.

Outro estado que se destacou no estudo foi o Acre. Quando os pesquisadores analisaram apenas as dez terras indígenas mais ameaçadas da Amazônia, sem incluir unidades de conservação, cinco territórios localizados em solo acreano entraram no ranking: Kulina do Médio Juruá, que também possui parte do território no Amazonas, Kaxinawa Praia do Carapanã, Kaxinawa do Rio Humaitá, Alto Rio Purus e Arara/Igarapé Humaitá.

“Esses dados revelam que os territórios indígenas, mesmo legalmente protegidos, permanecem  expostos ao avanço de atividades ilegais. As TIs são fundamentais na contenção do desmatamento, mas isso só se mantém quando há proteção efetiva. É urgente fortalecer a presença do Estado nessas regiões, garantindo segurança às comunidades e condições para que continuem preservando seus modos de vida e a floresta que protegem há séculos”, observa Carlos.

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